O vádio retracto


Tomo, de um retracto qualquer, um vadio que nunca soube nem nunca aprendeu como levar uma vida normal - daquelas de quem se levanta e trabalha e tem enfim uma rotina definida, banal...
Tomo-o não como inferior nem como vadio só por viver na rua e se manter vivo pela bondade de quem passa, tomo-o, pelo contrário, como uma alma superior repleta de valores reais e nobres e condignos; o vadio é, todo ele, transparência face à humanidade - as roupas desajeitadas, a face quebrada, a voz enfraquecida, o andar abatido, isso é não ser simples homem, é ser simples com a vida.
E é assim que deve ser levada a vida: simples. Os nobres de nome ou de fortuna não são ninguém, não podem nunca ultrapassar a vida oca e chegar às margens de outras dimensões; os nobres dessa virtude são os escravos da vida.
E eu tomo-o como um vadio, sim, mas um vadio especial e único; tomo-o como um vadio exposto num retracto que imaginei neste preciso momento e que um dia poderei ser eu mesmo.

Álvaro Machado
– 01:58 – 02-01-2013

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