Um chá temporal
O teu estado de espírito altera-se consoante o clima -
quando está sol e sentes o teu rosto reluzir é sinal de céu limpo, quando está
chuva e sentes uma tempestade moribunda é sinal de nem avistares o céu.
- Um chá de cidreira, por favor – pedi, com prontidão, ao
empregado.
Bebi-o de um só gole e soube-me a pouco. É a ironia do meu
Destino: tudo me sabe a pouco, tudo é repentino, e tenho forte espasmo por
momentos que desvanecem de imediato.
Saio do café e lá fora chove. Apresso-me como um doido
varrido, que não tem ideia nenhuma por onde vai, e levo com toda a intensidade
das pingas, também elas parecem chateadas com o mundo. (Raio de dia! Fui
enxovalhado pela água!) – talvez vários tenham pensado assim.
O estado do meu estado de espírito encontra-se, de momento,
inerte, porque não esmiucei nenhuma ideia para escrever... Parecia estar feliz
hoje, ao contrário de outros, e sentia enorme gozo em apanhar com a chuva e ela
apanhar comigo, parecíamos fruto de uma velha cumplicidade.
E quando nos temos por felizes a vida corre bem; não temos
motivos para um cismo profundo de revolta. Quando nos temos por felizes, a vida
também nos acolhe como sua irmã.
Por isso, o estado do teu espírito será como tiver que ser.
O tempo só lhe dá dimensão, assim como o espaço. O teu estado cria-lo tu,
porque é a ti que tens de criar. A tua boa ou má disposição cabe-te a ti,
porque és tu que desfruta ou sofre as consequências.
Voltei ao café. Esqueci-me de lhe pagar o chá.
- Por favor, senhor empregado. - aclamei.
- Dois centavos, meu senhor. - falou o empregado.
Como vêem, o empregado também exprimiu não só uma
perspicácia inata como um pequeno toque de felicidade, apesar de lá fora haver
aquela chuva avernal.
Álvaro Machado – 22:11 – 18-01-2013
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