Sentava-me na parte da frente do café a ler o DIÁRIO DE NOTICIAS quando, de repente, o vento me tira das mãos as breves e frias linhas que narravam a vida de um casal imigrante. Senti, naquele instante, uma náusea que não pode mais conter ao longo do dia. Entretanto esqueci, passaram dias.
Voltei, de novo ao café, numa tarde fria, mas não pegara no jornal. Falta de coragem, talvez! Até que entrou pelo café adentro o meu amigo francês, Leonard Sagè, e numa voz trémula assentou:
- Soube hoje que um casal de gente honesta se perdeu algures. Porventura - e hesitando no seu raciocínio, Sagè continuou - já não é mais casal, a não ser que sejam noutro mundo.
Que louco este francês! Saltei logo da cadeira e precipitei-me em sua direcção:
- Ó homem louco! Que dizes tu? Morreu alguém?
Ele bem acenou a cabeça, ele bem confirmou tudo o que eu tinha, de outra forma, pressentido naquela tarde fria... A minha visão, o meu sonho, o que julguei não poder ser, tudo isto se tornou a mais pura das verdades e o caminho mais concreto de todos.

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