Velhos amigos




É, de facto, agradável apreciar o que outros têm de mais sábio para com a vida. Eles são sábios na condição pura disso - são eles, com o passar de anos, que recordam aquilo que viveram, saudosos, e por aquilo que viveram, convictos.
A grande euforia já lhes passou pelas mãos. O espírito imune a tudo também. Agora, na flor da idade, restam-se-lhes as memórias mais ou menos nítidas do que foi e do que já não é; passou, e como passou, não volta.
Eu sento-me na cadeira artificial, estendo as pernas em sossego e encosto o rosto gélido aos raios do sol invernal sem dar conta de mais nada, excepto da conversa entre os sábios. Riem-se e falam. Falam a rir-se. O Deus deles é a natureza do mundo e o resto é miragem. Quem passa entre eles, passa-lhes apenas; quem vive na miragem, enfeita-lhes os locais. Nada mais do que isso, porque eles são sábios. Fumam compulsivamente, não pensam em nada e riem-se de quem pensa neles...
O que está ao meu lado não sabe quem sou, mas coloca um lenço sobre o rosto para se proteger do sol e fixa-me um olhar acolhedor. Será ele um amigo de longa data? Ou, talvez, uma data de um longo amigo?
Defronte de nós, um louco ignóbil grita como que hoje seja dia de Apocalipse e incide em si a revolta perante todos, parentes ou não; e eu contemplo estas vozes sábias que acolhem a minha também sem rancor de superioridade ou eco de inferioridade, eles são a verdadeira noção de amizade entre finais de vida.
Todos os finais de vida são bonitos quando se descansa na alma a natureza de tudo.

Álvaro Machado – 17:43 – 13-01-2013

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