Meia roleta russa



Os tempos não estão fáceis. (Diria, aliás, que nem para quem já daqui partiu o está; só contemplar torna-se, inesperadamente, uma dificuldade...) A maneira mais fácil de lidar com as dificuldades será, porventura, tentar a sorte ao jogo; porque jogar todos jogam, ganhar é que poucos ganham. Há que ceder ao impulso quase irracional de jogar pelo menos uma raspadinha.
- E você, qual deseja: das raspadinhas de um ou três euros?
Bem, eu fico a pensar naquilo por instantes. Não sou eu quem vai jogar (Estou a jogar, mas estou a sonhar ainda mais alto: a registar o euromilhões.), apesar de querer responder: «As de um euro, por favor!»
A mulher que está ao meu lado comprou sensivelmente seis por um euro, e os tempos estão difíceis; se não estivessem, seria o dobro.
A mesa tem sofrido desgaste pelo seu uso frequente, está completamente suja, e as mãos continuam a raspar, ora uma, ora outra, e a seguir a raspar a desilusão toma conta de quem achou poder inverter a tempestade com a bonança. E por ali vai a mulher descrida pensado para si: «Hoje a sorte não esteve comigo. Voltará amanhã, se Deus quiser.»
Os tempos não estão difíceis, as pessoas é que não fazem nada para que eles estejam fáceis.

Álvaro Machado – 20:02 – 28-05-2013

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