Estaleiros de Viana
Ficámos a saber, indubitavelmente, que os Estaleiros de
Viana do Castelo têm uma mão-de-obra proveniente de erros crassos
qualificativos ou melhor dizendo não-qualificativos. Ainda assim, isto também
provém de outro factor, mais gravoso, que são os erros sistemáticos dos
governos ao longo da nossa história. A falta de qualificação da nossa
mão-de-obra é de tal modo incongruente que nunca será possível ajustarmos a
realidade portuguesa à de outros países, nomeadamente as potências que
concorrem no mercado internacional; a carência da mentalidade para adaptar-se à
luta de preços, à concorrência forte, à constante busca de inovação, à
tentativa de produzir mais e melhor, à noção que é preciso renovar técnicas e
visões, tudo isso cai por terra quando sabemos, por intermédio de um empresário,
não estarmos adaptados a nenhuma desta circunstâncias.
É por isso crucial investirmos na qualificação da população e,
não obstante, na mentalidade da mesma. Sem isso nunca será possível exportarmos
com toda a qualidade que queremos. Concordo com algumas privatizações e esta
privatização - ou reprivatização, como lhe queiram chamar - é uma das
necessárias, neste momento, a ser feita, pela simples razão da burocracia
intransigente que assistimos tanto no que toca aos trabalhadores dos estaleiros
como aos sindicatos.
Acham ainda que podem ser vistos no cimo de uma colina,
sobre uma rocha e gritar: "Queremos direitos. E se não os dão, faremos
greve!". Parece bizarro burocratas apelarem por direitos. Mas há de tudo.
Como é possível a Venezuela ter encomendado dois navios,
salvo-erro, aos ENVC, ter estipulado num acordo o prazo de entrega e, passado
esse tempo, nós falharmos o acordado? Como é possível a Venezuela ter inclusive
pago já nove milhões de euros em vão? Com esse dinheiro a entrar nos cofres dos
estaleiros, foi decidido, então, fazer uso dele para outros afins que não
tinham, de todo, ligação com isto. E porquê? A resposta é fácil e global: a
burocracia não tem precedentes.
Transcrevo ainda um pequeno trecho que revela a mentalidade
portuguesa, a falta de transparência e, acima de tudo, a leviandade com que o
mercado é encarado em Portugal: "Até Junho de 2011, os pagamentos
efectuados aos ENVC pela Venezuela - cerca de nove milhões de euros -, foram
utilizados, acrescentou a mesma fonte, noutras obrigações da empresa «que não
relacionadas com o contrato», o que «dificultou» o cumprimento das várias fases
de construção.".
O tempo continua, o relógio não pára. A mentalidade e os
costumes é que continuam inertes.
Álvaro Machado - 19:20 - 20-10-2012
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