Novembro, dia 10
Como de costume, hoje foi dia de almoço fora de portas. Frio
e chuva com ventos infernais na parte de trás da porta, calor e intensidade
pela parte de dentro. Foi assim.
A conversa fluía à medida que os segundos transitavam entre
o tempo indefinido de estarmos ali sentados e o espaço eternamente intenso de
ali estar... Temas foram abordados de forma simples, ainda que sublime, e a
esperança ganhou novo fôlego: o mar das nossas vidas pela primeira vez era
navegado por nossas naus; a igreja, representada por um padre defronte,
parecia, à primeira vista, ser honesta e séria; a família de camponeses por de
trás de nós conversando sobre pesca e agricultura, que enfim é a sua vida; e o
dono, padecendo de embriaguez, abrindo portas à chuva exógena, gritava
altivamente: "entrai sobre este calor intenso!".
Não podia precisar o que realmente se passou naquele
instante. Porém, sei que aconteceu. Enquanto estava sorridente no diálogo
catastroficamente cómico chegou uma mulher que, diga-se de passagem, não
caminha para nova, de cabisbaixo nos desejou bom apetite - ela que, alias,
sempre sorridente nos fala abertamente - com a perna mórbida. Não ficando
contente com o que via, ergui a voz ao alto e perguntei-lhe:
- Afinal, o que lhe aconteceu? - disse-o espantado
Uns breves segundos de silêncio fizeram sentir-se na sala de
jantar até que, de repente, respondeu resignada:
- Dei cabo desta perna, senhor.
- E já tratou de ir ao médico? Olhando para si, parece ser
grave. - disse eu
- Oh, é claro que já tratei de ir. Mas só tenho vaga para
dia 21. Infelizmente é o país que temos...
A conversa por ali seguiu sem nexo e acabou sem desfecho.
Não esperei mais. Talheres arrumados, café a chegar e este trecho termina
assim.
Álvaro Machado - 14:53 - 10-11-2012
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