O santo restaurante
Sem querer ser tendencioso (longe de mim sê-lo), hoje o meu
dia foi apaziguado pelo vácuo almoço no restaurante esquecido. A conversa pouco
ou nada seria proveitosa para a escrita, o espaço muito menos - visto que,
naturalmente, fazia acompanhar-se somente pelas cadeiras e pelas mesas - e a
descrição do empregado toda ela é rotinada semanalmente.
Porém, sentia uma predisposição tal para observar
minuciosamente, que tudo isto foi motivo para mais tarde escrever: o empregado,
e também ele dono do restaurante, continua com as suas anedotas forçadas,
continua ébrio até à exaustão e mantem-se fiel à sua mulher; o homem dotado
para a espingarda continua com uma dor intransportável, de cabisbaixo e a
chorar por quem da caça fez amante; e, por último, S.João, o santo mais
motivador para uma prece junto de um cadafalso, olhando-me fixamente nos olhos.
O almoço passou rápido. Pouco agradável, excepto o café que
chegou à mesa largando um fumo exótico. Aí a conversa subiu sobre um mar morto
e exaltou toda a formosa natureza... O empregado juntou-se à conversa, assim
como o homem que almoçava defronte de nós, e passamos horas a dar voz à
natureza, à arte de caçar, à vida vivida apenas, à simplicidade do que é estar
no mundo!...
E não querendo ser tendencioso, como aliás comecei o texto,
concluo-o dizendo tratar-se dos almoços mais calmos e mais sublimes a que podia
ter presenciado!
(E eu, nunca estive naquele almoço vácuo nem junto destes
homens...)
Álvaro Machado - 19:01 - 07-12-2012
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