Congresso do PSD


Nem tudo que dizem é verdade. Nem tem de ser, então, a nossa memória tão curta e tão susceptível à ilusão como eles julgam. Não: não estamos melhor, estamos pior; não temos tido outra coisa senão dias dolorosos passados no limiar da pobreza; não temos aquela esperança de voltar melhor do nosso dia, porque vivemos de indecisão, de medo.

Portanto, não escondamos a tempestade, não digamos bem do mal, não façamos da mentira uma verdade. Quem são esses homens que têm direito de o fazer? Passos Coelho, Luís Montenegro? Vêm agora dizer que estamos em bons tempos, que estão os indicadores a melhorar, que o país recupera? Enquanto no plano interno os dias continuam cinzentos e se vivem na indefinição do presente e na descrença do futuro? Dizem que o país está melhor, mas que o quotidiano das pessoas não melhorou; presume-se, portanto, que isso não é uma preocupação e muito menos um motivo para dar insónias.

Hoje li uma boa crónica no Jornal de Notícias, pelas mãos do professor catedrático José Mendes. E decidi transcrever parte dela, porque é, sem dúvida, uma verdade incontornável:

"A narrativa construída ao longo desta semana sobre o pretenso milagre económico que está a acontecer em Portugal foi praticamente esmagada pelo relatório do FMI, que veio recordar as fragilidades dos indicadores macroeconómicos que o Governo anda por aí a espalhar. De facto, até por respeito à inteligência dos portugueses, o primeiro-ministro devia evitar exibir 'o orgulho de estar a vencer uma das mais graves crises económicas e sociais do nosso tempo'.

(...)

Ao 'orgulho' de Passos Coelho não resisto a contrapor aquele que é o sentimento de tantas e tantas pessoas com que nos cruzamos no dia a dia. O que esses portugueses dizem é que não desejam um país governado por quem pensa que a Constituição deve ser suspensa e que o Tribunal Constitucional é uma força de bloqueio. Não desejam um país governado por quem declarou guerra ao Estado social. Não desejam um país governado por quem acha que tudo o que é público é mau, incluindo os servidores do Estado. Não desejam um país governado por quem trata os reformados e pensionistas como meros números vermelhos, que apenas engrossam a coluna da despesa do Orçamento. Não desejam um país governado por quem pensa que o país pode prescindir da Ciência e do Ensino Superior de qualidade. Não desejam um país governado por quem convida os jovens à emigração.

O primeiro-ministro orgulhoso que estes dias se exibe no Coliseu dos Recreios é uma espécie de negativo dos portugueses desempregados, dos jovens que abandonam o Ensino Superior, dos habitantes do interior que vêem os tribunais, as repartições de finanças e as juntas de freguesia fugir para longe, das empresas vítimas da estagnação do consumo interno e do investimento. Estes cidadãos, aqueles que foram esmagados pelos impostos que permitiram pintar de laranja os indicadores macroeconómicos, são apenas danos colaterais.".


Álvaro Machado - 18:32 - 23-02-2014

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