Desencontros.
Cada vez me desencontro mais. Sonho dentro do sonho só uma
vaga impressão de mim, caminhos que julgo ter percorrido mas as cores são
distorcidas e não sei se fui eu afinal quem os percorreu... Sei que sempre que
tento viver eu apenas não consigo, uma incompreensível agonia se me atravessa
por entre uma cidade só comigo onde os vidros das grandes estruturas são
estilhaçados e o vento arrasta as folhas pela calçada abaixo, leva-me a vida a
esta solidão, a esta tomada de consciência onde o coração bate triste com o
alheio por dele não poder pertencer...
Porquê nem uma noite sossegada, sem remorsos? Há muito que no
teu nome não creio, sempre que o invoquei de nada valeu, temos sido levados
continuamente nessa barca a que tu chamas de fim... Chegamos lá porque tinha de
ser a nossa hora? E ali vai ela, a partir, ainda que todos rememos para
regressar, ali vai ela a extinguir-se no horizonte do para sempre... Tens
levado tantos e tantos levaste sem saber porquê de os teres levado, porque eles
não queriam ir nem era hora para isso.
Leva-me a agonia, leva-me nessa nau, que eu não me consigo
ser porque sou demasiadas pessoas contrárias em caminhos atónitos e
desconhecidos, uma frieza estática e uma alucinação frenética, uma permanente
dúvida em ver as estrelas e uma afincada certeza que eles têm vida, outra vida
mais nobre, que eu hei-de encontrar...
Escolho a liberdade à conformidade. Eles vêm de todo o lado.
Nem sei se verdadeiramente existem, mas eles vêm de todo o lado, de todo o
lado...
Quem são, que me dizem que são? Eu não consigo ouvir, pesa
querer ouvir o que eu já há muito tomei consciência... O mar que comandas e que
eu navego é um recanto sombrio aquém da vida, prolixo, quando tem de ser, de
boas sensações, inconstante nas ondas e impiedoso quando chega a hora.
Que sentido ter então?
Álvaro Machado - 16:15 - 14-02-2014
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