Inesperado regresso

Estamos de volta, Orionte e eu, os parceiros do costume, cercados dos habituais espaços que subitamente trespassam por esse universo fora. De repente, os nossos pensamentos tomam conta do restaurante, tudo em volta desaparece, olhares, conversas, barulho de fundo, e só nós existimos ali.

Orionte consente qualquer desfecho para a sua vida, tamanha experiência e sabedoria assim o proporcionam, e, sendo assim, ei-lo sentado, sobre uma cadeira, contente com tudo o que teve, contente com tudo o que tem. Que importa o fim, meu amigo? Fui feliz, deus permitiu-me ver muitas coisas, coisas que nem eu julgava possíveis tornaram-se parte da minha história... para que hei-de temer esse fim que toda a gente teme? Ah, como eu compreendo Sócrates neste momento! Sócrates aceitara-o levianamente, aceitara-o pela justiça do tempo, aceitara-o porque algo de sublime o esperava ávidamente.

Se fechar os olhos, se tudo cessar, eu mantenho-me sentado, sabiamente sentado, com a força que move todas as gerações passadas, presentes e futuras. Eis-me senhor de mim mesmo, eis-me senhor do universo e de todos vós! Pois, mesmo antes de partir, ergo em mim o senhor Whitman, o senhor de Manhattan, o senhor do Modernismo, e canto a vida com toda a intensidade! Viva a nós, viva a nós, camaradas!

Voltou o nosso café; descansemos.

Álvaro Machado - 16:03 - 04-10-2014

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